sábado, 26 de setembro de 2015

Não fomos feitos para ficarmos juntos, não fomos feitos para durar

Você pode ler esse texto ouvindo Sia - Chandelier

Acordo meio atordoada, viro de lado, a cabeça pesando. Sabia que não deveria ter bebido tanto na noite passada. Tento me levantar, mas quando apoio minhas mãos na cama, sinto a textura de um corpo. Lembro de você e de nós dois dançando juntos na noite passada. Fecho os olhos. “Por favor. Por favor, que não seja ele.” digo para mim mesma. Olho devagar e respiro fundo. Sabia que não deveria ter bebido tanto na noite passada. Você está dormindo com um ar tão calmo, tão angelical que eu quase esqueço de todas as vezes em que você me deixou mal. Olho mais um pouco para você antes de levantar da cama e decidir ir embora. Encontro nossas roupas jogadas pelo chão do quarto e sei que vou me arrepender amargamente do que aconteceu na noite anterior, assim que eu parar para lembrar de tudo, é claro. Vou juntando minhas coisas e tento fazer o mínimo de barulho possível pra não te acordar. Não quero que você tenha a chance de insistir para que eu fique, pois eu sei, você sabe, todos sabem, que eu nunca resisti a um pedido seu. 
Coloco meu vestido, pego meus sapatos de salto alto e minha bolsa que está ao lado da sua mesa de trabalho. Me viro novamente para você, seu corpo se mexe e gelo. Você não pode acordar. Seguro a respiração esperando. Depois de alguns segundos você, enfim, para de se mexer. Olho os seus papeis espalhados pela sua mesa e resolvo deixar um bilhete. Não posso sair, assim como você sempre fez, sem dar algum sinal. Pego um papel e procuro uma caneta. Abro suas gavetas e na segunda eu não encontro uma caneta, mas encontro a nossa história. Ou o que restou dela. Vejo nossas fotos antigas, que você fez questão de revelar. Elas costumavam ficar expostas no seu mural de fotos, mas lembro que eu mesma as arranquei de lá na nossa última briga (enquanto ainda eramos um casal). Mexo mais um pouco e encontro as minhas cartas para você. Você sempre disse que amava o fato de “a sua garota, ser uma garota que escreve” e por isso eu te enchia de cartas, inúmeras dela. Pego uma das primeiras e começo a ler. Lembro do dia em que te entreguei essa. Você sempre me pedia pra le-la em voz alta para você. Era uma das suas prediletas e uma das mais sinceras. Guardo as cartas e encontro as nossas alianças de mentira e me seguro para não dar risada e te acordar. Lembro do dia em que inventamos essas alianças, só para brincar e você disse que guardaria até me dar uma de verdade. Não deu tempo, não é mesmo? Guardo tudo e fecho a gaveta. Encontro uma caneta e começo a escrever: “Confesso que não lembro muita coisa da noite passada, mas pelo nosso bem e pelo bem de tudo o que nós tivemos, é melhor fingirmos que essa noite nunca existiu.”. 
Leio o bilhete algumas vezes e até penso em jogá-lo fora. Talvez, só talvez, eu queira nutrir aquela esperança de que você irá me ligar assim que acordar, mas eu sei, você sabe, todos sabem, nós não fomos feitos para ficarmos juntos, não fomos feitos para durar. Mesmo que nossos encontros sejam regados de paixão, carinho, sorrisos e por mais que quando estamos juntos é como se o mundo parasse, nossos encontros foram feitos para serem apenas momentos. Dos melhores e mais memoráveis, admito, mas nunca mais do que isso. Giro a maçaneta e estou prestes a sair quando escuto uma voz rouca de quem acabou de acordar: “Ei, porque você está indo sem se despedir? Eu não mereço nem um beijo de despedida?”. Fico alguns segundos parada até que, enfim, me viro e te encaro. Você é lindo, mas consegue ser ainda mais lindo ao acordar. Sorrio e você retribui sorrindo de volta e é nessa hora que eu penso seriamente em jogar minha bolsa e meus sapatos no chão e voltar para cama, para os seus braços. 
“Eu realmente preciso ir. Na verdade eu nem deveria ter vindo.” digo depois de alguns segundos te olhando. “Porque?”. Você levanta e vem em minha direção. “Você sabe muito bem o motivo. Isso não está certo. Não podemos fingir que não sabemos como isso tudo vai terminar.”. Você chega mais perto e ao invés de eu me afastar, eu fico parada esperando a sua aproximação. “Por favor, fica só mais um pouquinho, só até…” eu te interrompo “Só até você cansar de todo esse jogo e me deixar de lado, como todas as vezes?” Você vacila. Dá um passo para trás e me encara. “Você não tem resposta para isso não é? E eu nem esperava que tivesse mesmo.”. Volto para a direção da porta e antes de sair te olho mais uma vez. “Eu amo você. Desculpa.”. Saio correndo, atravesso o corredor que dá para a sua sala e depois para a cozinha e enfim consigo sair da sua casa. 
Olho mais uma vez pro lugar que foi palco de todas as nossas brigas, nossas reconciliações, nossas trocas de amor e de carinho. Olho mais uma vez, pela última vez, pro lugar que foi palco do nosso fim. “Eu também amo você.” Enfim consigo responder baixinho, mesmo que você não vá mais escutar. “Desculpa se eu me amo mais.”.



2 comentários :