sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

O dia em que eu soltei sua mão para segurar o meu mundo.





   Sabe, eu sempre acreditei em Happy Ever After.  Sempre fui aquele tipo de garota que sonha em encontrar o garoto perfeito e ter um relacionamento perfeito, iguais aos dos contos de fada. Eu sempre acreditei na magia do amor mesmo em um mundo de copo sempre cheio e coração vazio. Eu sempre acreditei, com todo o meu coração, que no fim tudo daria certo.   
   E com você não foi diferente, com você eu sonhei tudo isso e acreditei, acreditei de verdade, que daríamos certo. Seríamos o casal perfeito, sabe? Daqueles que os amigos comentam e os familiares apoiam. E nós fomos, eu e você, nós fomos por algum tempo o casal que eu sempre sonhei e idealizei. Você era gentil, amável e me tratava tão bem... Eu me sentia tão bem com você. 
   Passaram-se dias, semanas, meses até as brigas começarem e tudo bem, afinal casais brigam, não é? Isso é normal. E você começou a controlar com quem eu saia, com quem eu conversava, que horas eu voltava para casa, para onde eu ia, como eu ia... E tudo bem, você só estava preocupado, não é? Preocupado que me acontecesse algo e você não pudesse estar perto o suficiente para me ajudar. Então aceitei, me curvei para todas as suas objeções, concordei com suas paranóias, seus pedidos, que não vinham seguidos com um “por favor” e sim com “entendeu?”.  
   Aos poucos eu comecei a viver em um mundo onde apenas eu e você existíamos. Meus amigos me ligavam e eu não atendia, eu evitava minha família, não ia mais nos happy hour da empresa. Era eu, você e nosso mundo. Depois de algum tempo eu chegava em casa e você não estava, não me ligava e sempre arrumava uma desculpa para suas ausências. Saia com seus amigos, bebia, voltava só de manhã para casa e tudo bem, não é? Pois você saberia se defender mesmo longe de mim, mas eu não. Sem você eu não conseguiria.
   Foram longos meses aceitando todas as suas desculpas e entendendo todas as suas neuras. Você era só um namorado perfeito preocupado com a sua namorada. E tudo bem. Tudo bem, até aquele dia... O dia em que, já fazia vários fins de semana, você arrumava mais uma desculpa para sair e me deixar sozinha em casa. O dia em que, sozinha, deitada no quarto, lendo sua mensagem, percebi... Fui até o banheiro e me olhei no espelho. Eu não reconhecia aquela pessoa que refletia para mim. Aqueles olhos cansados, aquelas olheiras, o cabelo sem cor, sem brilho, a boca seca, a pele frágil. Quem era aquela que refletia no espelho? Não poderia ser eu. Eu não era assim. Não poderia ser assim. 
   Foi naquele dia, o dia em que percebi; havia me perdido. No meio do caminho do nosso relacionamento acabei me perdendo e não sabia mais quem eu era. Me assustei. Em qual curva eu havia perdido o controle da minha vida? Eu não poderia mais aceitar isso. Eu era a protagonista dessa história, não poderia permitir que alguém roubasse esse papel. Muito menos você, meu namorado perfeito.  
   No dia em que não me reconheci, foi o dia em que me reencontrei. Peguei minhas coisas, coloquei em uma bolsa e sai. Liguei para uma amiga que fazia algum tempo não a via. Nos encontramos na casa dela e ela me ouviu chorar, eu chorei, perdida, querendo me encontrar. Nesse dia eu resolvi fazer o que, havia um tempo, não fazia. Resolvi me divertir. Me arrumei e depois de algum tempo passando maquiagem, me arrumando e me divertindo, quase consegui me encontrar por inteira e a sensação era tão boa que eu mal poderia esperar para que isso acontecesse de fato. Saímos. E eu dancei, cantei, me diverti com minhas amigas. Joguei papo fora, bebi e dei risada. Muita risada. Fazia tempo que eu não fazia isso e sabe? Naquele dia eu não precisei de nenhum namorado perto o suficiente para me salvar, pois eu já tinha feito isso por eu mesma. 
   Na hora que decidi sair daquela casa e me reencontrar, eu me salvei e descobri que o melhor de todos os contos de fadas é quando a gente se salva, sem precisar de ninguém, do nosso próprio dragão. Eu não precisava de um príncipe, pois eu nunca havia sido uma princesa, eu estava mais para mulher maravilha e foi nesse dia, quando percebi a força que tinha dentro de mim, que eu resolvi ser a mulher da minha vida, o dia em que eu soltei sua mão para segurar o meu mundo.

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