quinta-feira, 1 de outubro de 2015

P.S. I LOVE HER

Você pode ler esse texto ouvindo She Will Be Loved - Maroon 5


    E aí, tudo bem? Confesso que não sei muito bem como começar essa carta. Devo já dizer logo de cara, na lata, que eu sou o homem que a sua mulher amou por tantos anos? Ou devo primeiro dizer que eu sou o homem que amou a sua mulher, mas a deixou escapar? Essas duas coisas parecem não fazer mais tanto sentido agora, a primeira menos do que a segunda, tenho que dizer. 
     Eu sei, vocês casaram faz pouco mais de um mês. Recebi uma carta dela me contando tudo, se despedindo, me pedindo para ser feliz e deixá-la ser feliz também. Cara, você não sabe o quanto me doeu ler aquela carta. Você não sabe o quanto me doeu saber que ela estava prestes a se casar com outra pessoa. Por um instante eu pensei em aparecer no casamento de vocês, na cerimônia e acabar com tudo, explicar para ela tudo aquilo que eu deveria ter dito 12 anos atrás. Mas eu sabia, eu não tinha esse direito. Não poderia acabar com a felicidade dela mais uma vez, não como sempre fiz no tempo em que poderia ter feito tudo ao contrário, no tempo em que eu poderia ter feito ela ser minha para sempre. Sabe, cara, depois que passou a vontade de ir até a cerimônia e acabar com tudo, eu pensei, pensei mesmo em procurá-la depois, responder a carta dela, contar tudo o que me aconteceu ao longos desses 12 anos após a última vez em que nos vimos. 
    Sabe, cara, ela era uma garota linda. Eu sei, ela deve ter te mostrado fotos, inúmeras delas, mas pode acreditar, ela era ainda mais linda pessoalmente. Eu nunca soube o que mais gostava nela, se era o seu sorriso ou o jeito que mexia no cabelo. Sabe, cara, eu fui um babaca. Um verdadeiro babaca com a sua mulher. Eu tinha apenas 15 anos quando ela apareceu na minha vida. 15 anos, cara. O que um garoto de 15 anos sabe sobre o amor? Nada! E eu não sabia nada, até conhece-la. 
    Eu fui um babaca, um verdadeiro babaca e mesmo assim a sua mulher, a sua mulher, cara, ela me amou. Eu não atendia as ligações dela, mentia sobre não fumar, ficava de papinho com garotas na frente dela e ainda por cima me sentia no direito de reclamar quando ela ficava de papinho com outros garotos, eu ficava dias sem dar notícia, sem mandar mensagem e quando aparecia dava uma desculpinha esfarrapada que, cara, ela não acreditava, mas aceitava. Aceitava, porque ela me amava. Sabe, cara, vou confessar, eu fazia tudo isso porque eu sabia, tinha certeza de que ela me amava tanto que não conseguiria ficar com outra pessoa, mesmo eu sendo o babaca que sempre fui com ela. Foram dois anos assim, cara, até o dia da formatura dela. 
    Era um sábado a noite e todos estavam se arrumando. Mais um terceiro ano dando adeus ao Ensino Médio. Para o pessoal do terceiro ano era dia de comemorar, enfim a faculdade viria. Para o pessoal do segundo ano, era o começo do último ano, o tão esperado último ano. Para o pessoal do primeiro ano, era apenas mais uma festa. Para nós dois era o fim. 
    Confesso, passei algum tempo imaginando como seria a vida sem ela e eu cheguei a acreditar que não sentiria falta, seria só mais uma no final das contas. Eu tentei me convencer disso tantas vezes até aquele dia. Ela estava linda, radiante. Era a oradora da turma. Ela subiu ao palco duas vezes, a primeira para poder pegar o certificado e a segunda para falar em nome da sua sala. Lembro que não conseguia desviar meus olhos dela, até os olhos dela se encontrarem com os meus. Ela sorriu e eu soube, naquele momento, cara, eu soube que ela não seria só mais uma no final das contas. Quando ela desceu do palco, todos aplaudiram, inclusive eu. Pensei por alguns segundos até decidir; não poderia deixá-la ir embora, não sem falar o quanto a amava. 
A chamei para conversar, disse que precisava me despedir da maneira certa. Ela me encarou por alguns segundos e enfim, veio em minha direção. 
    Ela estava parada na minha frente, cara. Só esperando eu começar a falar e eu fiquei em silêncio. Eu apenas olhava para ela, a sua mulher, eu a olhava e via ali a mulher da minha vida. Peguei uma de suas mãos e a coloquei sob me peito. Eu queria ter dito que a amava e que não conseguiria passar um dia sem aquele sorriso, poderia ter feito-a ficar, poderia ter feito-a acreditar em nós, mas eu, mais uma vez, fui covarde.“Desculpa,” comecei a dizer “eu gosto demais de você. Não posso fazer isso. Você não merece. Não é justo.”, eu a soltei, cara. Eu virei as costas e a deixei sozinha, parada, ali no dia da sua formatura e ela não disse nada, não foi atrás de mim, não me implorou para ficar, para tentarmos. Cara, eu fui embora e ela me deixou ir. 
    Olhei para trás e lá estava ela, parada, me olhando ir embora e eu queria que ela tivesse ido atrás, como sempre fazia e então eu, babaca, perguntei; “Vai me deixar ir assim?”, ela me olhou por algum tempo e pude ver lágrimas passeando pelo seu rosto “Te deixar ir assim? O que você quer? Quer que eu corra atrás de você e implore pelo seu amor? Quer que eu te peça para ficar? Não, não vou fazer isso. Dessa vez, dessa última vez, vai ser diferente. Eu fico se você quiser ficar, mas também deixo você ir se for essa a sua escolha. No final de tudo, quem sempre me deixou escapar foi você. Quem está indo embora, na verdade, sou eu.”. Lembro dessas palavras como se tudo tivesse acontecido hoje, agora mesmo e ainda dói, cara. Ainda dói lembrar dela se virando e caminhando de volta para festa. Sempre que ela ia, acabava olhando para trás e eu a fazia voltar, mas dessa vez foi diferente, dessa vez ela foi sem nem olhar para os lados, me deixando ali, sozinho com o meu orgulho. 
    Depois desse dia, cara, nunca mais nos falamos, nos encontramos algumas vezes, mas não trocamos sequer uma palavra. A última vez que nos vimos foi há 12 anos e desde então eu tento fugir das lembranças que ainda tenho daqueles dois anos que tivemos juntos. Eu tinha 15 anos, era um moleque, um menino e aos 17 anos, quando a vi indo embora, quando me vi perdendo a mulher da minha vida eu virei um homem. Da pior maneira possível. Ela me mudou, cara. E só tenho a agradecê-la por isso. Há um mês soube que estava prestes a se casar e eu não poderia fazer mais nada. Só aceitar. 
    Então, cara, eu te peço, cuida da sua mulher, ama a minha menina como você nunca amou outra pessoa antes. Eu sei, na hora dos votos matrimoniais você prometeu amá-la e respeitá-la na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença, na riqueza ou na pobreza até que a morte os separe, mas faz mais do que isso, cara. Faz tudo o que eu fui incapaz de fazer. Faz tudo pelo que eu deixei escapar pelos dedos. Faz tudo o que você puder fazer.
     Seja o melhor amigo dela, antes de ser o melhor marido. Saiba escutar o que ela tem a dizer e entenda quando ela quiser ficar sozinha. Ás vezes ela precisa de um momento só com ela para se reencontrar. É normal. Entenda que ela não faz joguinhos. Nunca. Se ela quiser, ela vai dizer. De primeira. Mas se ela não quiser, não insista. Ela não muda de ideia tão fácil. Não ria dela, mas ria com ela. Presta atenção o quanto ela fica linda quando está com vergonha e o quanto é sexy a mania que ela tem de morder a boca quando está pensativa. Lembra todos os dias de dizer a ela o quanto ela é incrível, eu sei, ela não reage muito bem a elogios, mas saiba que ela ama recebe-los de quem ela gosta. Ela se sente importante. Faça alguma atividade física com ela, mas nunca a leve para uma academia. Ela odeia. Não deixa a criança que tem dentro dela morrer, não se assuste se, aos 30 anos, ela continuar comendo mc lanche feliz. Ou se ela te chamar para ver o último filme de criança que lançou no cinema. É normal, ela gosta mesmo. Quando ela estiver triste, coloca o cd da banda predileta dela pra tocar, ela é fã da mesma banda desde os 14 anos. Nunca fale mal deles. Em hipótese alguma. Outra coisa, uma dica, encha a casa de flores na primavera. É a estação predileta dela. Por isso vocês se casaram no dia 22, é o ínicio da estação. Não se assuste se ela se achar auto-suficiente e começar a fazer as coisas sozinhas, sem pedir sua ajuda, ela odeia depender das pessoas. Confia nela, conta seus problemas, seus perrengues, suas dúvidas, ela estará sempre pronta para ouvi-lo e mesmo que não encontre uma solução, ela fará com que você se sinta pelo menos melhor.  E o mais importante, nunca acabe um dia sem faze-la sorrir. Ela ama sorrisos e o sorriso dela é lindo. 

    Por fim, aqui vai, não uma dica, mas um pedido e um conselho, um pedido sincero: Por favor, não a deixe ir embora. Por experiência própria, você não vai suportar perder essa mulher, a sua mulher, a minha menina. 


PS: Eu ainda a amo.



*Esse texto tem conexão a outro texto do blog publicado em julho. Para le-lo clique aqui. ;)

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